Visões da Guerra



O desdobramento da política, em alguns casos, é a guerra. Não é óbvio, porém, que os antigos fossem absolutamente amantes da guerra, apesar da existência dos xátrias na Índia (a casta guerreira) e de mestres da estratégia como sunzi na China. A guerra existia, fosse como necessidade, ou como conseqüência de interesses políticos. O hino do atharva veda, da época védica, traz ainda o fulgor guerreiro das tribos arianas; as leis de manu, contudo, já antevêem que a guerra, mais do que um exercício glorioso, é também uma questão estratégica importante. No caso chinês, fica claro que a guerra é vista como uma calamidade para o povo, como parece no poema do shijing; mesmo sunzi, o primeiro autor a escrever um tratado especifico sobre o tema, entende que a guerra é um evento desastroso e nada romântico, defendo uma vitória pela inteligência, mais do que pela violência; mozi e mêncio, embora de escolas diferentes, desprezavam o conflito (apesar dos moístas fossem bom estrategistas também), mas shangyang, da escola legista, advogava que a guerra deveria ser uma das principais atividades do governo, mantendo o povo ocupado e sempre requisitado aos interesses do Estado. Os regimes totalitários modernos incorporaram idéias semelhantes, mostrando suas potencialidades e falhas desastrosas.



89. Benção das armas de um príncipe em sua ida para a guerra, do atharva veda

Quando está revestido da couraça e avança no meio da batalha, ele parece uma nuvem de tempestade.
O arco! Manejando-o, iremos apossar-nos das vacas, dos despojos do combate, e ganhar a batalha. O arco desagrada ao inimigo. Vamos conquistar com o arco todas as regiões do espaço.
Ela está junto à orelha, como se fosse falar, beijando o amante querido, a corda! Distendida no arco, vibra como se fosse uma jovem mulher, salvadora na confusão da luta.
E as duas que a sustentam, como a mãe ao seu filho, que se aproximam dela, como vai a amante ao encontro do amado, são as pontas do arco. Repelem os inimigos, expulsam os adversários.
É mãe de muitas filhas e filhos, fazendo-os tinirem quando ela desce à arena, a aljava. Amarrada às costas, logo agitada, ganha as batalhas.
Em pé no carro está hábil cocheiro, estimulando os cavalos até onde ele quiser. Admirai a beleza das rédeas. As bridas vêm de trás e dirigem o animal segundo o pensamento do cocheiro.
Quando avançam com os carros, os cavalos fazem ruído, os cavalos de ferraduras fortes. Pisando o inimigo, eles destroem o adversário.
A oblação é a carreta onde se colocam as armas e a couraça. Quem nos dera estar sempre de coração alegre, sentados no carro.
Sentados em círculo para sorverem a doce bebida, estão os Manes, doadores de vida, apoio no perigo, valorosos, profundos, brilho das armas, impulso das flechas, incansáveis, corajosos, dominadores dos clãs.
Ó brâmanes, Pais que honram o soma, sede benevolentes conosco, vós e também o Céu e a Terra, que ninguém domina. Puschan, defenda-nos do mau passo. Salvai-nos, vós que sois exaltado pela ordem Universal. Nenhuma palavra pérfida nos domina.
A flecha tem a pena da águia, seu dente é o da fera e, presa na corda do arco, ela voa quando se solta. Onde os soldados se juntam ou se separam, venham as flechas socorrer-nos.
Ó flecha direita, poupa-nos! Seja de pedra o nosso corpo! Interceda por nós, Soma. Conceda-nos um abrigo, Aditi!
Ó chicote, açoita o lombo dos animais! Ó chicote, estimula os cavalos ao combate!
A luva enrola-se no braço como se fosse uma ser- pente. Proteja o braço do valente.
Embebida em arsênico, cabeça de antílope com boca de aço, semente de Parjania, a Flecha! A nossa homenagem dirige-se a essa deusa.
Voa longe, Dardo afiado pela oração! Vai, penetra nas fileiras dos inimigos, sem poupar nenhum deles!
Quando as flechas voam juntas, como rapazes em cavalos impetuosos, Briaspati e Aditi ofereçam-nos um refúgio em toda parte, sempre um refúgio!
Protejo suas partes vitais com a couraça. Digne-se Soma Rei vestir-te de imortalidade, Varuna, abrir-te um campo livre, e os deuses saudarem sua vitória!
Quem pretende matar-nos, longe ou próximo de nós, destruam-nos os deuses! A oração é a minha couraça interior!


90. A guerra nas leis de Manu

Quando um rei sabe que em algum momento próximo a superioridade será sua, e que na presente ocasião seus danos serão pequenos, então ele deve apelar para medidas pacificadoras
Mas quando ele está realizado em todos os sentidos, que há paz, contentamento, e que o povôo exalta como um grande líder, então o deixe ir à guerra.
Quando seu exército alegre, disposto e forte, e o de seu inimigo está fraco e desanimado, o deixe marchar contra o seu inimigo.
Mas se o rei for fraco, tiver poucas carruagens, poucas montarias para o transporte e poucos soldados, deixe-o acalmar-se, cuidadosamente, e tente conciliá-lo gradualmente com seus inimigos.
Quando o rei sabe que o seu inimigo é muito mais forte que ele, então deixe que o inimigo divida suas forças para assim alcançar os seus propósitos.
Mas se um rei for muito fraco e facilmente dominável por seus inimigos, então deixe que ele fuja para o abrigo de um outro rei mais forte rapidamente.
Que ele sirva ao rei que o abriga, que trata de seus assuntos e de seu inimigo, com todo esforço, como se este fosse seu guru.
Que ele percebe até quando, e como, é desfavorável a proteção que ele pede aos outros, ou o mal que ele causa quando vai a guerra.
Por isso um príncipe se baseia no seguinte princípio: que nem seus amigos, inimigos, e nem os neutros são mais fortes do que ele.
Ele deve considerar o destino de todas as suas ações, suas conseqüências, o lado bom e ruim de tudo o que faz.
Ele sabe que o bem e o mal serão resultados de seus atos, tanto no futuro quanto do passado. Se ele entender isso, não será conquistado.
Se ele souber se organizar de modo que nenhum amigo, inimigo ou neutro seja mais poderoso que ele, isso será a sabedoria política.


91. Um Soldado pensando no Lar, do shijing

Vou até o alto daquela colina coberta de árvores,
E olharei em direção à casa paterna,
Até que com os olhos do espírito possa divisá-la,
E com os ouvidos do espírito possa ouvir meu pai dizer:
- Pobre de meu filho que está em serviço fora de nossa terra!
Ele não descansa de manhã até o anoitecer.
Possa ele ser cuidadoso e voltar para meus braços!
Enquanto está longe, como eu sofro!
Subo até o alto daquela colina estéril,
E olho pensando em minha mãe,
Até que com os olhos do espírito diviso suas feições
E com os ouvidos do espírito ouço o que ela diz:
- Ai! O meu pobre filho está em serviço longe de mim!
Ele nunca fecha os olhos num bom sono.
Que ele tenha cuidado consigo e que volte a meus braços!
Que seu corpo não fique no meio das selvas!
As mais altas cadeias de montanhas eu, com esforço, subo
E olhei pensando em meu irmão.
Até que com os olhos do espírito divisei sua silhueta,
E com os ouvidos do espírito ouço o que ele diz:
- Ai de mim! meu irmão mais novo está servindo fora do país. O dia inteiro deve vaguear com seus camaradas.
Que ele tenha cuidado consigo e que volte para perto de mim
E que não morra longe de nosso lar!


92. Sobre as proposições da vitória e a derrota, em Sunzi

Como regra geral, é melhor conservar um inimigo intacto do que destruí-lo. Captura seus soldados para conquistá-los, e domina seus chefes.
Um General dizia: "Pratica as artes marciais; calcula a força de teus adversários; faz com que percam o ânimo e a orientação, de maneira que ainda estando intacto, o exército inimigo fique imprestável: Isto é ganhar sem violência. Se destruíres o exército inimigo e matares seus generais, assaltas suas defesas disparando, reúnes uma multidão e usurpas um território, tudo isto é ganhar pela força."
Por isto, os que ganham todas as batalhas não são realmente profissionais; os que conseguem que se rendam impotentes os exércitos alheios sem lutar, são os melhores mestres do Arte da Guerra.
Os guerreiros superiores atacam enquanto os inimigos estão projetando seus planos. Logo desfazem suas alianças.
Por isso, um grande imperador dizia: "O que luta pela vitória frente a espadas nuas não é um bom general." A pior tática é atacar uma cidade. Assediar, encurralar uma cidade só se leva a cabo como último recurso.
Emprega não menos de três meses em preparar teus artefatos e outros três para coordenar os recursos para teu assedio. Nunca se deve atacar por cólera e com pressa. É aconselhável tomar-se tempo na organização e coordenação do plano.
Portanto, um verdadeiro mestre das artes marciais vence outras forças inimigas sem batalha, conquista outras cidades sem assediá-las e destrói outros exércitos sem empregar muito tempo.
Um mestre experiente nas artes marciais desfaz os planos dos inimigos, estropia suas relações e alianças, corta os mantimentos ou bloqueia seu caminho, vencendo mediante estas táticas sem necessidade de lutar.
É imprescindível lutar contra todas as facções inimigas para obter uma vitória completa, de maneira que seu exército não fique aquartelado e o beneficio seja total. Esta é a lei do assédio estratégico.
A vitória completa se produz quando o exército não luta, a cidade não é assediada, a destruição não se prolonga durante muito tempo, e em cada caso o inimigo é vencido pelo emprego da estratégia.
Assim, pois, a regra da utilização da força é a seguinte: se as tuas forças são dez vezes superiores às do adversário, cerca-o; se são cinco vezes superiores, ataca-o; se são duas vezes superiores, divide-o.
Se tuas forças são iguais em número, luta se te é possível. Se tuas forças são inferiores, te mantém continuamente em guarda, pois a menor falha te acarretaria as piores conseqüências. Trata de manter-te ao abrigo e evita o quanto possível um enfrentamento aberto com ele; a prudência e a firmeza de um pequeno número de pessoas podem chegar a cansar e a dominar até grandes exércitos.
Este conselho se aplica nos casos em que todos os fatores são equivalentes. Se tuas forças estão em ordem enquanto que as do inimigo estão imersas no caos, se tu e as tuas forças estão com ânimo e eles desmoralizados, então, mesmo que sejam mais numerosos, podes entrar em batalha. Se teus soldados, as tuas forças, a tua estratégia e o teu valor são menores que os de teu adversário, então deves retirar-te e buscar outra alternativa.
Em conseqüência, se o bando menor é obstinado, cai prisioneiro do bando maior.
Isto quer dizer que se um pequeno exército não faz uma avaliação adequada de seu poder e se atreve a enfrentar uma grande potência, por mais que a sua defesa seja firme, inevitavelmente se converterá em conquistado. "Se não podes ser forte, porém tampouco sabes ser débil, serás derrotado." Os generais são servidores do Povo. Quando seu serviço é completo, o Povo é forte. Quando seu serviço é defeituoso, o Povo é débil.
Assim, pois, existem três maneiras pelas quais um Príncipe leva o exército ao desastre. Quando um Príncipe, ignorando as ações, ordena avançar a seus exércitos ou retirar-se quando não devem fazê-lo; a isto se chama imobilizar o exército. Quando um Príncipe ignora os assuntos militares, porém compartilha em pé de igualdade o mando do exército, os soldados acabam confusos. Quando o Príncipe ignora como levar a cabo as manobras militares, porém compartilha por igual sua direção, os soldados estão vacilantes. Uma vez que os exércitos estão confusos e vacilantes, iniciam os problemas procedentes dos adversários. A isto se chama perder a vitória por transtornar o aspecto militar.
Se tentas utilizar os métodos de um governo civil para dirigir uma operação militar, a operação será confusa.
Triunfam aqueles que:
Sabem quando lutar e quando não.
Sabem discernir quando utilizar muitas ou poucas tropas.
Possuem tropas cujas categorias superiores e inferiores têm o mesmo objetivo.
Enfrentam com preparativos os inimigos desprevenidos.
Tem generais competentes e não limitados por seus governos civis.
Estas cinco são as maneiras de conhecer o futuro vencedor.
Falar que o Príncipe seja o que dá as ordens em tudo é como o General solicitar permissão ao Príncipe para poder apagar um fogo: quando for autorizado, já não restam senão cinzas.
Se conheces os demais e te conheces a ti mesmo, nem em cem batalhas correrás perigo; se não conheces os demais, porém te conheces a ti mesmo, perderás uma batalha e ganharás outra; se não conheces aos demais nem te conheces a ti mesmo, correrás perigo em cada batalha.


93. Contra a Guerra, em Mozi

Falemos agora dum só país em pé de guerra. Se for no inverno, agravar-se-á o frio. Se for verão, o calor será excessivo. Se for na primavera, a peleja inibirá os camponeses de semear e plantar; se for no outono, tornará impossível a colheita e a segadura. Em qualquer dessas estações, desde que os homens sejam arrancados aos campos, inúmeras pessoas morrerão de fome e de frio. E, quando os exércitos partem, com setas de bambu, flâmulas de penas, barracas, armaduras, escudos e cabos de punhais... Inúmeras dessas coisas serão quebradas, destruídas e jamais voltarão. As lanças, as adagas, as espadas, os punhais, os carros, as carroças... Serão destruídos em grande número e nunca voltarão. Numerosos cavalos e bois, que partiram bem nutridos, se voltarem, voltarão descarnados. E inúmeras pessoas morrerão à míngua, por lhes serem tirados os mantimentos e não receberem – devido às grandes distâncias – novas provisões. Inúmeros seres adoecerão e perecerão, em virtude do constante perigo e da irregularidade com que comem e bebem, dos extremos da fome ou dos excessos. Então o exército será dizimado em grande parte, ou aniquilado na sua totalidade; noutros casos, o número das vítimas pode ser incalculável. Isto significa que os espíritos perderão os seus adoradores, e o número destes também seria incontável.

Por que, então, o governo priva o povo de oportunidades e benefícios em tamanha extensão? A resposta será: “O motivo é: Ambiciono a fama do triunfador e as possessões que se obtém pelas conquistas”.


94. A guerra é um massacre, em Mêncio

O rei Huei de Liang disse: "Apesar da minha fraca virtude, ponho todo o empenho em governar bem o meu reino. Se o ano for infausto em Ho, removo todas as pessoas que posso para leste do Ho e transporto cereais àquela região. Se o ano for mau a leste do rio, procedo, noutra parte, de acordo com o mesmo plano. Examinando os métodos governamentais, nos reinos vizinhos, não vejo soberano que se esforce como eu. Contudo, a população dos reis vizinhos não diminui; nem aumenta o meu povo. Como é isto?"
Mêncio replicou: "Vós prezais a guerra, Majestade. Permiti que vos trace um quadro da guerra. Os soldados avançam, ao som do tambor; e, quando o gume das suas armas se embota, eles despem as couraças, arrastam as armas atrás de si e fogem. Alguns correm cem passos e param; outros dão cinqüenta passos e param. Que pensaríeis vós, se os que só andaram cinqüenta passos se rissem dos que deram cem passos?"
O rei observou: "Eles não podem fazer isso. Os outros não alcançaram cem passos, mas também fugiram".
"- Desde que sabeis isso, Majestade", tornou Mêncio, "não tendes razão para esperar que o vosso povo se torne mais numeroso do que as populações dos reinos vizinhos".


95. A guerra, em shangyang

Geralmente, no método aplicado nas campanhas militares, o principio fundamental consiste em tomar as medidas governamentais supremamente prevalecentes. Se tal for alcançado, então as pessoas envolvidas não terão disputas; e, não tendo disputas, não terão pensamentos sobre interesses próprios, mas sim sobre os interesses do governante. Por conseguinte, um verdadeiro rei, através das medidas adotadas, tornará as pessoas receosas nos combates entre várias cidades, mas valentes nas guerras contra os inimigos externos. Se as pessoas forem treinadas para atacar os perigos com vigor, estas não darão tanto valor à morte. Se, porventura, o inimigo for perseguido assim que o combate se iniciar e não cessar a sua retirada, abstende-vos de alcançar mais longe. [...]

Se um estado, ao ser pobre, se dedica à guerra, o veneno nascerá no lado do inimigo e não terá os seis parasitas, mas será certamente forte. Se um estado, quando é rico, não se dedica à guerra, o veneno será transferido para o seu próprio interior, terá os seis tipos de parasitas e será certamente fraco. Se o estado confere posição e estatuto de acordo com o mérito, pode afirmar-se que concebe planos com absoluta sabedoria e combate com plena coragem. Tal país certamente será inigualável. Se um estado confere posição e estatuto de acordo com o mérito, então as medidas governamentais serão simples e as palavras serão poucas. Isto pode ser considerado abolir as leis através da lei e abolir as palavras através das palavras. Todavia, se um estado concede posição e estatuto de acordo com os seis parasitas, então as medidas governamentais serão complexas e as palavras emergirão. Isto pode ser considerado criar leis através da lei e dar origem à loquacidade através das palavras. Então, o príncipe dedicar-se-á a eloqüência, os funcionários estarão distraídos a dirigir os funcionários malvados e estes terão proveitos próprios, enquanto os que possuem mérito retirar-se-ão cada vez mais, dia a dia. A isto pode chamar-se fracasso. Quando há que cumprir dez regras, estabelece-se a confusão; quando há apenas uma para cumprir, existe ordem. Quando a lei é estabelecida, aqueles que gostam de praticar os seis parasitas deteriorar-se-ão. Se as pessoas se dedicam inteiramente a agricultura, o estado é rico; se os seis parasitas não são praticados, então os soldados e as pessoas, sem exceção, rivalizarão entre si por incentivo e ficarão satisfeitos por serem utilizados pelo governante; as pessoas, dentro dos limites das fronteiras, rivalizarão entre si, considerando este fato honroso e não vergonhoso. Em seguida, surgirá a circunstância em que as pessoas rivalizarão entre si porque são incentivadas por via de recompensas e reprimidas por via de punições. Contudo, o pior caso dá-se quando as pessoas desprezam algo, são ansiosas e tem vergonha desta situação; então, adornam as aparências exteriores e dedicam-se à eloqüência; tem vergonha de assumir uma posição e exaltam a cultura. Deste modo, negligenciam a agricultura e a guerra e contemplando, assim, os interesses externos, criar-se-á um clima de perigo para o país. Possuir pessoas a morrer de fome e de frio, possuir mais vontade para lutar em nome do lucro e da gratificação são práticas correntes num estado em deterioração. Os seis parasitas são: festejos e música, odes e história, cultura moral e virtude, piedade filial, obrigação fraternal, sinceridade e fé, castidade e integridade, benevolência e justiça, criticismo do exército e vergonha de lutar. Se existirem estes doze fatores, o governante é incapaz de convencer as pessoas a cultivar as terras e a combater, pelo que o estado será tão pobre, levando-o a ser desmembrado. Se estes doze fatores se manifestam em conjunto, então poderá afirmar-se que a administração do príncipe não é mais forte do que os seus ministros e que a administração dos seus funcionários não é mais forte do que o seu povo. Esta é considerada uma condição em que os seis parasitas são mais fortes do que o governo. Quando estes doze fatores adquirem um elo de ligação, então se dá o desmembramento. Por conseguinte, para tomar um país próspero, não se deviam praticar estas doze coisas; então, o estado terá muito mais força e ninguém, no império, será capaz de invadi-lo. Quando os seus soldados partem, atingirão o seu objetivo e, ao atingi-lo, serão capazes de o manter. Quando um estado mantém os seus soldados na reserva e não procede a ataques, tomar-se-á certamente rico. Os funcionários da corte não rejeitam qualquer mérito, apesar do pequeno número que representam, nem depreciam qualquer mérito, apesar do grande número que representam. A posição e estatuto são obtidos em função do mérito conquistado e, embora possam existir conversas sofisticas, será impossível obter precedência indevida. Isto é definido como o governo baseado em estatísticas. Ao atacar com força, são ganhos dez pontos por cada ponto empreendido, mas no ataque com palavras, perdem-se cem por cada palavra proferida. Se um estado preza a força, diz-se que ataca com o que é difícil; se um estado preza as palavras, diz-se que ataca com o que é fácil. Se as penalidades são pesadas e as recompensas são poucas, então o governante ama o seu povo e este morrerá por si; se as recompensas são pesadas e as penalidades leves, então o governante não ama o seu povo nem este morrerá por si. [...]

No domínio dos assuntos externos relacionados com as pessoas, não há nada mais difícil do que as campanhas militares, daí uma lei fácil não as poderem induzir a integrá-las. O que se chama de uma lei fácil? É quando as recompensas são poucas e a autoridade é fraca e quando as doutrinas depravadas não são obstruídas. O que se chama de doutrinas depravadas? Existem quando o palavrório e o conhecimento são valorizados, quando os políticos itinerantes recebem cargos e quando a erudição e reputação particular se encontram em evidência. Quando estes três fatores não são detidos, as pessoas não combaterão e as questões esmorecerão. Uma vez que, quando as recompensas são poucas, não se encontra qualquer vantagem na obediência; quando a autoridade é fraca, não há qualquer mal na transgressão. Desta forma, as doutrinas depravadas são iniciadas de forma a induzir em erro as pessoas; e fazê-las lutar enquanto a lei é fácil é como colocar um gato a engodar um rato. Não será isto possível? Por conseguinte, aquele que deseja que o seu povo lute providencia para que a lei seja severa; conseqüentemente, as recompensas serão numerosas, a autoridade será rigorosa, as doutrinas depravadas serão proibidas, aqueles que se dedicam ao palavrório e ao conhecimento não serão honrados, os políticos itinerantes não serão empregados no poder, a erudição e a reputação privada não se evidenciarão. Se as recompensas são numerosas e a autoridade rigorosa, então as pessoas, ao ver que na guerra as recompensas são muitas, esquecerão o risco da morte e, ao ver a sua degradação quando não existe guerra, considerarão a vida difícil. Quando as recompensas os fazem esquecer do risco da morte e a autoridade rigorosa os leva a considerar a vida difícil e, além disso, as doutrinas depravadas são proibidas, deste modo enfrentar o inimigo seria como disparar, com uma besta com capacidade de cem piculs, sobre uma folha esvoaçante. Como seria possível não sucumbir?

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